Finalmente atualizando sobre o último dia do festival. Este dia também foi bem bacana. No início foi apresentado um filme animado feito por crianças, com trilha sonora realizada ao vivo. Apesar do filme ser curiosamente violento para o que se espera de um filme infantil (era sobre um garoto que se torna matador de aluguel (!) ), a trilha ao vivo casou perfeitamente com a imagem, e assistir esse espetáculo foi algo bem interessante. Me fez repensar o conceito de cinema de algo projetado simplesmente, previamente sonorizado e imutável para outras possibilidades, que remontam aos pimórdios do meio. Legal mesmo.
Como era também dia de premiação, sempre dá aquele friozinho na barriga... Embora o meu trabalho ainda tenha muito a melhorar, cada um destes curtinhas que tenho feito tem galgado mais alguns degraus nos festivais - fato que, por sinal, sou muito grato - , e as chances de um prêmio, qualquer que seja, surgir, aumentam. Se meus trabalhos merecem de fato, aí já é com o Júri... mas o fato é que dá aquela sensação esquisita, uma pequena tensão, uma leve (senão razoável) ansiedade, que quase desejamos na hora não estar concorrendo... :P Bom, o fato é que se sentar no cinema para assistir ao encerramento de um festival em que você não está concorrendo é totalmente diferente de assistir à uma cerimônia de premiação em que você está entre os realizadores cotados. No fim das contas você nem sabe, depois de ver que não ganhou nada, se isso foi bom ou ruim... :P
Mas uma coisa eu sabia: se fosse pra ganhar como Melhor Animação, o júri provavelmente teria que ter ficado louco, pois para uma produção totalmente experimental e independente, que não custou nada e que não tinha nem narrativa nem personagens claros nem nada dos pontos que geralmente se aprecia (e se procura) em animação, eu até que havia chegado bem longe. O ganhador desta categoria porém foi bem merecido: o sempre único Marão, amigo desde o Cine Vitória 2007, e pelo seu filme O Anão Que Virou Gigante. O que mais gostei no filme dele foi o caráter extremamente pessoal do trabalho - não o tema, como imagino que sempre falem pra ele, mas, não sei, a abordagem... o fato dele mesmo fazer a (excelente) narração, a animação cada vez mais afiada, e a linha da história... bom, cativante mesmo, é indiscutível. Se todos os animadores tivessem personalidade como o Marão, com certeza a animação por aqui já estaria muito mais desenvolvida.
Meu colega de quarto no evento e novo amigo, Fábio Yamaji, ganhou pela trilha sonora do seu fantástico trabalho O Divino, de Repente. Com certeza cotadíssimo também para o prêmio de Melhor Animação, Fábio misturou diversas técnicas no filme, coisa que aliás sou muito suspeito pra falar, pois é algo que acho absurdamente fantástico. O casamento entre documentário e animação mais uma vez se mostrou promissor, e este com certeza é um filme referência nesta vertente que se insinua a cada momento mais.
Também os amigos da terrinha Hugo Pierot e Gláucia Barbosa, realizadores experimentais, ganharam o prêmio de melhor vídeo, pelo O Homem Bifurcado. No agradecimento ambos foram muito humildes ao dedicar o prêmio ao cinema cearense. Bacana demais. Vamos todos juntos amigos! :)
E gostaria de encerrar esta parte pontuando e reforçando o que já tinha falado na postagem anterior, que como em outras viagens à festivais, o maior prêmio que podemos receber realmente, no fim das contas não é, nem de longe, um troféu: é, ao invés disso, os novos amigos que fazemos, os antigos que revemos e poder ter a oportunidade de participar de toda essa atmosfera envolvendo a nossa paixão, o cinema - e, melhor ainda, - de animação. Isso realmente não tem preço. Sempre ouvimos falar de grandes figuras da área - como estes meus amigos citados - e quando os conhecemos pessoalmente vemos que temos todos os mesmos problemas, os mesmos obstáculos e dividimos todos o mesmo prazer por fazer filmes, por realizar os nossos sonhos. Seja qual for o suporte, técnica ou temática, estamos todos no mesmo barco, e com certeza os ventos estão cada vez mais favoráveis. Em frente!
E pra finalizar, entre algumas coisas dos dias anteriores que aconteceram e não mencionei, algumas merecem ser comentadas. Era então dia 4, já havia assistido aos curtas do dia, e ainda não havia assistido nenhum longa da programação, nem mesmo na outra edição do festival que estive presente. Como passam muito tarde e terminam mais tarde ainda, a gente vai deixando pro outro dia e tal, pela fome, ou por sono, ou por outra coisa, enfim (acho que isso acontece em todos os festivais... :P), e acaba-se por não se ver nenhum. Decidi porém, nesse dia, que tinha que ver algum. Ia passar então o documentário Dzi Croquettes. Comecei a assistir, fui gostando... e quando me dei conta, tinha assistido todo. Puxa, impressionante, mesmo. A história desses percusores, pioneiros, inovadores e corajosos artistas é algo que merecia mesmo um filme. E o filme é intenso, do começo ao fim. O som estava altíssimo durante a projeção (que é algo que até gosto), então ao fim parecia que se tinha entrado mesmo no filme. Certamente todos saíram tontos da sessão. Demais. Qualquer dia desses deve passar no Canal Brasil, pois é produção deles. Vale a pena assistir :D
E outro ponto que merece ser comentado (e preferia até que fosse esquecido... hahaha! :P) é que, neste mesmo dia, o ator Maurício Mattar foi um dos apresentadores da cerimônia - já que a cada noite uma dupla de "astros" (geralmente globais) se revezava na apresentação. Ele apresentou, normal, naquele estilo meio falso/forçado mas, enfim, vá lá, era de se esperar mesmo. E tudo transcorreu como de outras vezes, apresentando cada filme e chamando os realizadores ao palco e tal. Ao encerrar, porém, antes de chamar os filmes, qual não foi a surpresa de todos na tenda quando o apresentador diz que preparou uma "surpresa": disse que ia cantar, com 'exclusividade', uma música que estava "adaptando" da Mi Corazón Partido, do Alejandro Sanz! E aí de repente muda a iluminação, o playback começa a tocar antes que ele sequer comece a mexer a boca e ainda por cima começou a dançar! Achei que estava presenciando uma cena ao vivo do filme Falsa Loura, do Reichenbach, no qual o nosso amigo de "Mattar" (não resisti ao trocadilho... :P) parece zombar de si mesmo no papel que faz. Foi incrível... no pior sentido dessa palavra. Totalmente gratuito e desnecessário, a esta apresentação ao vivo só ouvi comentários revoltados perto de onde eu estava sentado, e um clima de indignação podia ser sentido, com certeza. Um senhor ao meu lado não parava de gritar revoltado. Essa é pra rir sozinho, como faço agora ao lembrar... no mínimo, bizarro... :P
E é isso! As fotos retirei do site do festival. Como tinha falado antes, a produção em si do festival está de parabéns em quase todos os quesitos, só pecando mesmo, ironicamente, no mais importante: as projeções. Mas Cine Vitória 2010, se tudo der certo, aí vamos nós, novamente! Mas quem será que cantará desta vez?... :P
2 comentários:
Sensacional relato, Akel. Pra ficar registrado como o festival é bacana e pra não deixar esquecer aquele momento bizarro de mattar. Nós querendo ver mais da Ingra Liberato e o 'galã' roubando a cena.
Aliás, voltamos no mesmo voo (ela se sentou atrás de mim) e pudemos conversar um pouco - afinal conheço os pais e a irmã da moça. Foi um bônus à uma viagem muito agradável.
Obrigado pelas palavras ao 'Divino' e parabéns de novo pelo 'Linhas'. Já mandou pra Annecy?
O abstrato é onde quero chegar na animação e seu filme é referência.
Abração!
Grande Fábio! Me honra sua visita ao blog! :D
Com certeza, todos preferiam ter visto mais a Ingra do que o personagem do filme do Reichenbach... tive a oportunidade de conhecer o clã Liberato, em 2008, e todos são de fato pessoas finíssimas e talentosos artistas, em todos os campos. Suas viagens de avião, pelo que estou vendo, sempre tem gratas surpresas não é? :D Esta deve ter sido muito agradável mesmo :)
Vou sim atrás de Annecy! Será que dá tempo ainda? :)
Obrigado pelos elogios! Vamos caminhando juntos amigão! Os meus próximos passos seguirão pelos caminhos do documentário animado, que quero muito experimentar e ver o que consigo fazer... temos que nos encontrar em trocar mais umas experiências... :D
Abração! :)
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