sábado, 14 de maio de 2016

Diário de bordo: uma pequena viagem a Canoa Quebrada


Registros de uma pequena viagem para tirar um descanso em Canoa, com minha família. Foram apenas alguns dias, mas o suficiente pra recarregar as baterias.
Já houve um tempo que os registros de viagem que eu fazia eram exclusivamente escritos e muito detalhados, mas o tempo foi passando e o registro em imagens passou também por fotografias e agora segue desenhado, pintado, escrito, com alguns títulos, textos, pensamentos... o mais solto e livre possível. Na verdade, esse registro ocorre também no dia-a-dia, todos os dias, sobre o cotidiano mesmo, e claro, também incluindo as viagens. Já faz quase um ano que o tenho feito assim, e é algo que eu breve falarei numa próxima postagem.


Levei pra Canoa uma porção pequena mas suficiente de material de desenho, que continha basicamente canetas diversas, marcadores - sobretudo as Poscas -, lápis, líquido corretivo, uma porção de sobras de papéis coloridos e de revistas e livros para recortes (ótimos para quando não podemos levar grandes quantidades de tinta), uma pequena aquarela e um dos meus materiais preferidos hoje: um waterbrush - pincel sintético com reservatório para água, para uso em aquarela - cheio de nanquim, com o qual posso desenhar e pintar livremente em qualquer lugar com boas pinceladas de preto profundo (uma das coisas que mais me dá prazer ao desenhar). E claro, todos os papéis que me chegavam às mãos - notas de compras, cartões de visita, tickets de embarque do ônibus e afins - entravam na dança e viravam novos elementos de composição.


É extremamente divertido criar assim, "no caminho", muitas vezes "onde não se deveria fazer arte", isto é, no ônibus, na fila pra alguma coisa, na mesa cheia de comida e por aí vai. Não por acaso é justamente nestes ambientes onde os melhores trabalhos aparecem, e além do próprio registro, é muito bom estar sempre praticando, treinando e se habituando a criar a toda hora, em todo lugar, a partir do que se tem. Claro que nem sempre o resultado é o que esperamos, mas como já dizem vários artistas também adeptos dos cadernos, basta virar a página e seguir em frente.


No entanto, confesso que por vezes o registro parece meio bobo na hora que você faz - ou o desenho não ficou tão expressivo, ou os fatos não parecem assim tão interessantes que mereçam menção ou mesmo questionamos a própria razão por que diabos estamos "gastando" nosso tempo registrando o que nos cerca a toda hora, ao invés de "viver" a realidade e pronto. Mas é justamente aí é que está: quando se registra, se vive a realidade do momento de forma incrivelmente intensa, e continuaremos revivendo sempre que voltarmos ao caderno, cujos desenhos - por mais bobos e toscos e aquém do que imáginavamos ser o ideal sejam - eternamente nos levarão de volta ao momento da sua feitura, ao local. Fotografias e textos sozinhos não fazem isso como os desenhos, que parecem ter algum tipo de poder associado ao momento que o fazemos na realidade vivida, quase como se gravássemos os fatos na pedra da memória, a cada traço, a cada pincelada, a cada papel cortado e colado.


E pequenos textos sempre complementam e enriquecem o registro, que na verdade é a soma disso tudo. E nestes meus registros tem um pouquinho de tudo; cafés da manhã e outras refeições, retratos de quem passava pela minha frente, paisagens, animais, objetos mas sobretudo, sensações. No fim das contas, acho que é isso: tentar captar da melhor forma possível as sensações vividas. Mais uma vez, muitas vezes os retratos das pessoas sairão completamente esquisitos e nem um pouco parecidos com os modelos reais, e também as paisagens, objetos e outros sairão bem diferentes, mas essa é a graça da coisa: dar o nosso ponto de vista sobre algo, como artistas, interpretar, transformar, e colher um pouco de tanta coisa incrível que vivemos todo dia e muitas vezes parece que ficamos cegos, incapazes de perceber tais sutilezas. Mas seguimos em frente, registrando, absorvendo e eternamente nos calibrando e refrescando o olhar em cada esquina - mesmo nas dentro de casa.









quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dois curtas selecionados no Fest Anca 2016 (Zilina, Eslováquia) !


E meus curtas Repentino e Máscara foram selecionados na edição deste ano do Fest Anca Internacional Animation Festival, um festival internacional muito bacana de cinema de animação que acontecerá de 29 de junho a 03 de julho na cidade de Zilina, na Eslováquia. Inscrevi vários trabalhos, e achei muito interessante que estes foram justamente os que entraram (a seleção sempre diz muito - ou tudo - sobre o perfil de um festival), e fazem parte de uma categoria interessantíssima chamada Extremely Short Section of Extremely Short Films, que contém filmes curtíssimos de realizadores do mundo inteiro.

Imagem do Repentino

Ambos os filmes fazem parte de um conjunto de vinte trabalhos que fiz inteiramente - ou quase inteiramente - em dispositivos móveis. No caso dos dois, a animação, edição e finalização foram feitas inteiramente em dispositivo móvel (num iPad quarta geração). Uma vez finalizados, já os subi diretamente para a página dos curtas no meu canal do vimeo, o que os torna filmes que foram feitos sem depender de estruturas maiores de câmera, computadores e outros equipamentos. Isso dá uma liberdade enorme de criação, o que inclusive acredito que fica evidente assistindo aos filmes.

Imagem do Máscara
Seguem os filmes para assistir online:

Repentino from Diego Akel on Vimeo.

Máscara from Diego Akel on Vimeo.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Autorretratos



Autorretrato, o tema clássico do retrato desenhado ou pintado, ou mais ainda, na fotografia, nestes tempos de selfies. Outro dia estava num blog de uma artista, e ela falava de um projeto pessoal em que fazia autorretratos ocasionalmente nos seus cadernos. Confesso que no momento achei meio bobo, meio narcisista demais, mas - como muita coisa aqui nos meus processos ultimamente - logo revi esse meu pensamento besta e, junto com o que li de outros artistas, fez todo o sentido do mundo - afinal, como dizem eles, somos um modelo que está sempre disponível, que não vai ficar chateado se o retrato não parecer em nada com o real, e ainda, que cobra um preço que podemos pagar. Por que não então?

Estes autorretratos então foram feitos sob diversos contextos, mas sobretudo como treino de um traço mais solto e descompromissado, às vezes inclusive desenhando às cegas. Nada de esboço, precisão, unidade... Na verdade, tentando não pensar em nada - por que acaba que o próprio fato de se fazer algo sem usar regras tradicionais é criar novas regras -, deixar simplesmente fluir. 

Boa parte deles foram feitos após as madrugadas em claro trabalhando num projeto grande (sobre o qual em breve postarei) aqui no estúdio, e queria fazer algum registro de como me encontrava após horas e horas animando até ouvir os passarinhos da manhã cantando. E vamos em frente :-)







terça-feira, 3 de maio de 2016

05:03



Pequeno registro feito ontem da linda luz nas primeiras horas do dia, com a noite sumindo e dando lugar aos tons amarelos, quase esverdeados do azul profundo que se esvai. Usei o nanquim azul da Acrilex (de linda cor, além de ser tão baratinho que tenho que comprar caixas e caixas dele!) que acho que retrata bem o azul e seus tons aguados desaparecendo para o dia. Ainda, a textura de fundo - um mapa de Pernambuco - da página do caderninho se prestou bem na composição. E vamos em frente :-)