sexta-feira, 25 de abril de 2008

Materiais Animados!

Bom, postando agora sobre materiais interessantes para se fazer trabalhos animados, assim como um pouquinho sobre como utilizá-los; espero que seja interessante para quem procura o melhor material para realizar o seu curta. A idéia não é fazer um tratado ou um "manual de instruções" sobre como utilizar os materias mas sim dar uma idéia básica de como manuseá-los, e principalmente como são os efeitos iniciais que cada um deles pode proporcionar. Tudo colocado aqui baseia-se em minha própria experiência enquanto desenhista e animador, onde venho experimentando estes materiais e aprendendo (muito) com eles.

Existem muitos materiais, e para cada estilo e técnica de animação pode-se utilizar um, vários, combinações entre eles ou mesmo outros materiais inimagináveis - me aterei aqui porém aos mais conhecidos, utilizados diretamente sobre papel.

Os exemplos abaixo foram feitos usando-se papel comum com gramatura 180g/cm3. Os originais de todos os desenhos têm medidas de 35 x 61mm, e foram escaneados a 400 dpi.

Lápis (HB a 9B)
Talvez o mais básico dos materiais, o lápis pode, além de servir para esboço, dar grandes efeitos e, associado a um uso inteligente de processos como o alto contraste (após digitalizar a imagem) pode ficar com um aspecto surreal e intensamente granulado - o que é muito desejável para um trabalho cinematográfico animado - a vibração em movimento dos grãos do material é algo procurado por muitos animadores.

(abaixo) - Utilizando lápis 2B



(abaixo) - Utilizando lápis 9B



Lápis de Cor
Também bastante simples, traz grande vivacidade aos desenhos. O lápis de cor tem textura por si só granulada, e ultimamente tem sido fabricado ainda mais poroso e macio - o que poderia ser o equivalente de cor à gramatura 6B do lápis comum. Existem até mesmo os modelos aquareláveis, que embora tenham custo elevado são mais macios e, adicionando um pincel previamente molhado, pode-se conseguir efeitos ainda mais impressionantes. Sem dúvida o lápis de cor é um material básico para todo bom animador.

(abaixo) - Traços totalmente cruzados


(abaixo) - Traços quase paralelos




Caneta Esferográfica
Considerada ordinária e talvez até impensável para se fazer imagens animadas de qualidade, a caneta esferográfica comum (sim, uma BIC qualquer de R$ 0,50) pode proporcionar grandes efeitos se utilizada com destreza; a variação no traço que ela especificamente proporciona (mais grosso se a utilizar com força e devagar e mais fino se se traçar rápida e suavemente) é difícil de se encontrar em outros materiais - o traço fino de uma caneta assim é uniforme, linear e muito mais fácil de se conseguir do que, por exemplo, com pincel; seu ponto forte é justamente a maciez do traço, devido à ponta esferográfica, que diminui o atrito com o papel. Simples, prática e barata, traz inúmeras possibilidades.

(abaixo) Dois estilos de traço com a caneta esferográfica







Caneta porosa
Traços rápidos e bem preenchidos são uma forte característica da caneta de ponta porosa. Tanto os tipos a base d´água como os demais são, porém, descartáveis - e dependendo do uso podem acabar bem rápido mesmo (muito mais do que uma esferográfica). São práticas e perfeitas para várias situações; desde desenhos bem acabados até trabalhos para ontem (que tem que ser feitos mesmo muito rapidamente) elas dão conta do recado. A melhor e mais conhecida é a popular Uni Pin, da Mitsubishi Pencil Co., que tem uma ótima ponta (nem muito dura nem muito mole) e não borra com água; o original feito com ela (dependendo das condições) dura muito bem com o passar dos anos. Outra boa opção é a também popular caneta para retroprojetor - que hoje é mais conhecida como marcador para CD e DVD. O traço é grosso e indelével, assim como rápido e macio.Geralmente a tinta atravessa o papel comum, quando se traça várias vezes numa mesma área (acumulando tinta), mas para um preenchimento rápido de preto é a melhor opção.

(abaixo) Personagem central feito com Uni-Pin ponta 0.2 mm; círculos e linhas
de fora feitos com caneta para retroprojetor




Tinta Nanquim
A tradicional tinta nanquim é um dos materias mais conhecidos para desenho e se mantém no topo no sentido de praticidade, resultado e durabilidade. É de fácil manuseio (já vem pronta para o uso, dispensando diluição), tem excelentes resultados (tanto em canetas técnicas ou pincel) e o trabalho feito com ela pode durar, mesmo mal acondicionado, muitos e muitos anos - o preto profundo se mantém fiel e indelével com o passar do tempo, mesmo passando por mofo, sujeira, poeira e ação de ressecamento. A melhor forma de se utilizar o nanquim é com um pincel, que pode ser mais grosso, mais fino ou incrivelmente fino - o que requer, neste último, muita destreza. A prática com o pincel para estes trabalhos muito precisos porém, leva vários anos para se masterizar, necessitando muito treino, disciplina e controle, mas uma vez conseguido, tem resultados espetaculares. De qualquer forma, independente do treino, um bom artista pode realizar excelentes trabalhos com nanquim, e nas imagens de um curta animado fazer visuais fluidos e impactantes.

(abaixo) Desenhos feitos com tinta nanquim, antes de retoque de alto contraste digital





Tinta Guache
A tinta guache é relativamente barata, fácil de encontrar e prática. A base d´água, já vem pronta para o uso, o que facilita e agiliza o trabalho. É interessante sua utilização em imagens com variação de tom na mesma cor - uma cor de preenchimento profundo é mais difícil de se conseguir com guache, mas é uma tinta maleável, de secagem razoavelmente rápida. Combinando-se as cores - na mistura ou na hora da aplicação no papel - pode-se conseguir grande efeitos. Ao contrário da acrílica, em sua forma normal é uma tinta de consistência fina. Pode ser usada de inúmeras formas, sob diversas linguagens e estilos - do mais acadêmico ao mais abstrato e rebuscado.
(abaixo) - Desenhos feito com tinta guache, usando duas cores, não sobrepostas
(abaixo) - Desenhos feito com tinta guache, usando várias cores, sobrepostas


Tinta Acrílica
Bastante utilizada em telas de pintura e em trabalhos diversos de tamanho médios a grandes, a tinta acrílica também pode ser usada em papel com interessantes resultados. Ao contrário de outras tintas (como a aquarela), a tinta acrílica não permite uma variação de cor homogêna na hora em que é aplicada, mas deve ser misturada antes da aplicação. Deve ser, inicialmente, dilúida em água, e a criação de novas cores devem ser feita com atenção, sempre se misturando bem as tintas. Uma vez diluída, misturada (se for o caso) e homogênea, a tinta está pronta para o uso em papel. O resultado da pintura é bem interessante, e com algumas camadas de tinta sobrepostas numa mesma área pode-se conseguir um preenchimento profundo praticamente perfeito. É relativamente mais cara que outras tintas, mas durável; um pote tradicional de 250ml de tinta concentrada pode durar alguns anos, com utilização ocasional.


(abaixo) - Fundo amarelo com duas camadas de tinta + pinceladas azuis

(abaixo) - Fundo azul com quatro camadas de tinta + pinceladas amarelas





Tinta Aquarela
A própria natureza da aquarela sugere trabalhos mais soltos e suaves, ainda que imprevisíveis e arriscados - mas no bom sentido. O fato de a tinta ter que se misturar com água para ser comumente utilizada faz com que cada pincelada seja diferente da outra, e dependendo da quantidade de tinta, de água, do papel e da velocidade das pinceladas o resultado é totalmente diferente. A própria textura da aquarela faz com que se dissolva no papel, ao ser aplicada, aí surgindo um suave degradê. É difícil, logo, saber exatamente como a tinta irá "reagir" no papel; o artista que empregar está técnica deverá então estar extremamente aberto às possibilidades oferecidas pelo material e condições de trabalho. A mistura de cores é algo bem prórpiro da aquarela - uma vez no papel, as cores sobrepostas resultam em outros tons ou mesmo outras cores, e pode-se assim criar belíssimas imagens, realistas ou não. Uma possibilidade interessante: após a digitalização, na edição das imagens, pode-se utilizar uma pequena fusão (fade) entre os frames, conseguindo-se um efeito extremamente surreal, elevando esta técnica ao topo, se se deseja causar sensações etéreas, leves e de suavidade.


01(abaixo) - Aquarela com amarelo, laranja, laranja-escuro, vermelho, vermelho escuro
e preto, com cores misturando-se entre si. Personagem central na cor preta muito diluída


(abaixo) - Aquarela apenas com tinta azul-claro




Cola Colorida
Material relegado a último plano, que só é mencionado e lembrado nas listas de material infantil de colégio. Extremamente versátil, barata e prática, a cola colorida é fácil de aplicar, seca relativamente rápido e os efeitos que pode trazer ao trabalho são únicos dela - as pequenas e perfeitas bolas de tinta que se acumulam e as marcas do próprio bico de aplicação, quando é arrastado sobre o papel, e junto com a tinta, deixam marcas semelhantes a "pinceladas"; a própria sobreposição das tintas é interessante; ora se mantém estáveis ora se misturam, o que dá efeitos muito curiosos. Tudo isso se deve à própria consistência da tinta, espessa e viscosa - mas maleável o suficiente para se permitir trabalhar tranqüilamente. Certamente um material muito interessante para se fazer algo diferente.
(abaixo) - Círculos de cola colorida


(abaixo) - Cola colorida em camadas, sobrepostas




Pastel Seco
Muito conhecido entre desenhistas e pintores, o pastel seco é geralmente associado a trabalhos de fidelidade ao sujeito retratado (composições de natureza morta ou retratos foto-realistas de pessoas); ao se utilizar para criar imagens animadas, porém, o pastel ganha ainda mais possibilidades. Graças à sua textura, força e impacto visual, rapidamente consegue-se fazer boas imagens - a textura que deixa no papel é muito granulada e interessantíssima para um trabalho animado de qualidade. Seu preço é elevado, mas este fato se compensa pelos resultados que podem ser obtidos utilizando-o.
(abaixo) - Pastel seco nas cores preto e amarelo

(abaixo) - Pastel Seco preto e amarelo + esfuminho




Pastel Oleoso
Como o nome diz, o pastel oleoso tem uma textura macia, de fato oleosa. A princípio o resultado parece semelhante com o seco mas, ao ser passado no papel, ocasionalmente libera pequenos pedaços, que juntamente com a variação de velocidade ao ser traçado permite visuais bastante originais e específicos. Ao ser utilizada a ferramenta esfuminho, assim como no pastel seco, o oleoso adquirirá um efeito único - que neste caso é mais difuso e uniforme, sendo também perfeito se utilizado com fusão entre os frames digitalizados.

(abaixo) - Pastel Oleoso normal



(abaixo) - Pastel Oleoso + esfuminho (no espaço e no anel do planeta)


Carvão
Material básico, muito barato e que traz grandes efeitos, o carvão permite criar visuais ainda mais suaves e específicos para os planos de um trabalho animado, e sua associação com fade entre os frames também é bem vinda. O carvão, porém, borra com extrema facilidade; esfregar de leve o dedo na superfície traçada, por exemplo, pode apagar um bocado do que foi feito. Há também a versão em lápis, que é mais escura, mais fácil de controlar e borra menos, mas ainda requer cuidado na manipulação - tanto durante o desenho como depois de feito. A solução para este problema é aplicar um spray fixador após o trabalho ter sido terminado, o que funciona como um verniz -as partículas do material ficarão por baixo da camada protetora, não mais borrando.

(abaixo) - Traços à carvão comum para desenho, borrado levemente com o dedo

(abaixo) - Traços à lápis de carvão, com levíssimo borrão com o dedo



Giz de cera
Material simples e também geralmente considerado infantil ou para uso técnico em construções (marcação em paredes, cimento etc), é muito versátil e permite desde desenhos acabados (com muitas camadas de cor sobrepostas) até texturas neutras de fundo, graças à sua capacidade de cobrir áreas uniformemente com sua textura - bastando para isso deitá-lo, e assim o traçar no papel. Não borra, dura muito se bem acondicionado (apenas seca com o passar dos anos, mas mantém a textura e cor) e é muito rápido para desenhar e barato. Há os tamanhos de espessura "padrão" e um mais fino - este geralmente em pequenas embalagens com 5 a 10 cores.
(abaixo) Desenhos feitos com giz de cera azul



É importante considerar que a variação de tipo, gramatura, revestimento e rugosidade do papel muda consideravelmente o resultado da ação dos materiais - especialmente em técnicas como lápis, aquarela, pastel, giz e carvão - utilizar um papel grosso e rugoso difere enormemente de se fazer o mesmo desenho sobre papel comum.

Bom, é isso! Espero que estas breves informações, idéias e dicas tenham sido de utilidade a todos os interessados, com os quais estou disposto a compartilhar mais idéias e possibilidades :)

4 comentários:

Fran disse...

Diego, riquíssimas essas informações! As vezes não nos damos conta que matérias tão simples possam resultar em efeitos tão belos. Mas é isso, as coisas mais belas são as mais simples, né? Obrigada por dividir! É um grande artista! :)

Diego Akel disse...

Puxa Fran, obrigado! Fico feliz que este material esteja sendo de utilidade! Sempre é um prazer dividir idéias, ainda mais com pessoas talentosas como você ;)
Eu é que agradeço, obrigado de coração.

Mac disse...

Oi Akel,

Bom dia!
Cara, parabéns pelo Blog: muito organizado, um ótimo conteúdo, interessante, simplificado e objetivo que segura a atenção do leitor.
Já está "favoritado".

Desejo-lhe muito sucesso na sua carreira. Tô na torcida!
Grande abraço,
Até mais tarde!

Luciano Mac

Diego Akel disse...

Obrigado Luciano! Que bom que está gostando! Sempre estarei postando muitas coisas por aqui :)
Valeu pela torcida amigo, e o desejo é recíproco!

Até logo mais!
Grande abraço!