Entre 10 e 17 de novembro de viagem da II Mostra Itinerante de Cinema do Ceará, onde tive a honra de fazer parte da equipe que em oito dias percorreu quatro cidades do nosso estado - Icapuí, Aracati, Fortim e Jaguaruana - realizando exibições e oficinas. Foi uma experiência incrível. Como em toda viagem que tenho feito, parte é trabalho, ou o nosso 'objetivo' principal mas (grande) parte é aproveitar um novo lugar - ou novos lugares - na sua essência, conhecendo coisas, pessoas e desfrutar de uma sensação, quase como um cheiro, um aroma, próprio de cada espaço diferente do nosso que encontramos.
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Eu e o rio Jaguaribe. (foto de Grá Dias) |
A Mostra então contava com a exibição de filmes propriamente dita - uma seleção do cinema cearense com vários estilos, abordagens, linguagens e momentos da nossa produção - e de duas oficinas: Realização de Documentário, (ministrada por Sabina Colares, que também foi responsável pela curadoria dos filmes exibidos na mostra) e animação, que ministrei com a assistência inestimável do parceiro e amigo Josimário Façanha. Ainda tive meu trabalho
Linhas e Espirais exibido na mostra, o que foi um ótimo bônus pra mim, ter meu trabalho nesta seleção tão bacana.
Uma coisa bem bacana foi que o evento foi largamente documentado através do Cine Jornal, um vídeo documentário que mostrava todas as nossas ações em cada cidade, e que era exibido no segundo dia em cada cidade. Foi muito interessante ver, tanto nos vídeos de resultado das oficinas quanto nos cine jornais, a população local refletida na tela.
Nossa equipe era ainda composta por David Aguiar, Helton Vilar, Canindé, Adriano Lima, Djaci José, Grá Dias, Janjão, e na montagem da tela e projeção, Ricardo e Márcio. Como falei antes, percorremos quatro cidades - Icapuí, Aracati, Fortim e Jaguaruana, nesta ordem -, ficando dois dias em cada, realizando as oficinas e a mostra de filmes. Abaixo um pouco de tudo o que vivenciei nestes dias tão bacanas.
Icapuí - Praia da Redonda
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Josimário dando uma volta na Praia de Redonda, em Icapuí. |
Na primeira cidade da nossa itinerância, tanto Mostra de Filmes como oficinas foram ministradas na Praia da Redonda, onde também ficamos hospedados. A oficina de animação aconteceu na Pousada Oh! Linda, com os alunos do projeto Um Toque de Criança, que ensina música para crianças e jovens.
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Alguns dos alunos na oficina em Icapuí. |
A oficina foi de stop motion com objetos, e a premissa básica foi trabalhar apenas com objetos encontrados nos arredores, e em cima destes objetos criar pequenas cenas animadas e criar um filme coletivo.
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Alguns dos objetos encontrados pelos alunos e usados nas suas animações. |
Os alunos, cujas idades variavam entre 8 e 13 anos rapidamente entraram no espírito da oficina e, usando apenas estes objetos conseguiram criar cenas muito bacanas. O fundamental era que percebessem exatamente isso - que podem animar usando qualquer coisa, e criar trabalho muito bacana sem precisar de fato de muita coisa.
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Truquinha armada e pronta pra começar! |
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Alunos em ação animando. Tentava interferir ao mínimo nas suas ideias, apenas direcionando quando necessário e os ajudando a obter da melhor forma aquilo que pensaram. |
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O momento exato em que vêem suas criações animadas e ganhando vida - este sorriso genuíno (que confesso partilhar cada vez que vejo algo que animo) com certeza é uma das melhores coisas de se dar oficinas de animação... |
Na segunda parte da aula trabalhamos apenas com animação com areia - recolhida ali do lado (nada como animar na praia!) -, que pedia uma nova abordagem, e que os alunos aos poucos foram entendendo como funciona.
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Josimário explica a um dos alunos como manipular a areia. |
E abaixo, o filme finalizado, e também o Cine Jornal mostrando como foi tudo por lá.
A finalização, edição e som dos filmes de animação dos alunos, assim como a edição dos Cine Jornais da Mostra foi de Helton Vilar.
Agradeço a Simão Pedro Dantas, coordenador do Projeto Um Toque de Criança, uma das pessoas que tornaram possível a oficina acontecer.
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Uma manhã nublada num dos dias que passamos na Praia de Redonda. |
Aracati - Comunidade da Volta
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Um dos locais na Comunidade da Volta onde realizamos as oficinas. (Foto da produção da Mostra) |
Os processos como um todo eram bem rápidos, então o nosso esquema básico era: chegar na cidade, ir direto pra oficina, dar aula manhã e tarde, e à noite exibição da Mostra. Segundo dia, oficina de manhã, tarde para fechar o filme da oficina, e à noite deste dia, apresentar os filmes das oficinas, entregar os certificados dos alunos, e na volta pra pousada arrumar as malas para sair cedo no outro dia pra próxima cidade. Tínhamos pouco tempo para "descansar", mas o processo todo era muito bacana de participar, extremamente empolgante. Claro, cada membro das outras áreas da equipe tinha outros horários, mas girávamos em torno desses pontos gerais e a itinerância seguiu em frente.
Chegando em Aracati, ficamos na Vila da Volta, uma comunidade nos arredores de Aracati, e nos hospedamos na Cama Café, um simpático sítio transformado em pousada, que faz parte da Rede Tucum, que habilita moradores de diversas regiões que não tem hotéis ou pousadas a transformarem suas casas em hospedagens. Ficamos aos cuidados de Dona Menininha, Seu Santos e suas filhas que nos receberam muito bem.
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Cama Café, onde tivemos nossa agradável estadia (Foto de Helton Vilar) |
Mas como eu dizia antes, chegamos mesmo direto pra oficina. Eu e Josimário montamos a truquinha (ver lugar pra posicionar, colocar base, encaixar estrutura em metal, desembalar tudo da mochila, encaixar câmera, cabos, posicionar extensão, ligar computador e iniciar o Dragon Frame - programa para captura de stop motion que uso -, verificar enquadramento e foco e voilá) e começo a aula. No primeiro momento, conversamos sobre o que todos conhecem de animação, e daí puxo para o tipo de animação que vamos fazer. Os alunos iniciaram animando com objetos que estivessem com eles, e no período da tarde passamos para objetos que encontrassem nos arredores.
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Eu explicando como funciona a truca, nos primeiro horário de aula (foto da produção da Mostra) |
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Um dos estudos iniciais desenvolvidos pelos alunos na parte da manhã (foto da produção da Mostra) |
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Já animando, os alunos compuseram uma perna que chuta uma bola, feita de um cordão de metal e uma tampa de garrafa plástica. |
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Uma tampa de garrafa de plástico e um palito de picolé se tornam um helicóptero, e um pedaço de cano uma torre nesta cena de um grupo de alunos. |
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E o helicóptero se aproxima de uma torre - representada por um pedaço de cano - e a leva para longe. |
No dia seguinte assistimos a referências de filmes feitos de forma semelhante, tanto trabalhos meus como de outros realizadores, daqui e de outros países. Após termos todas as imagens captadas, Helton tratou as imagens, editou todo o material, adicionando ainda algumas cartelas, música e efeitos sonoros e o resultado, que exibimos no segundo dia à noite, pode ser visto abaixo, e também o Cine Jornal mostrando como foi tudo em Aracati.
Meus agradecimentos a Francisco José, animador e membro do ANIMARACA - Núcleo de Animação de Aracati, que nos deu todo o suporte durante a oficina.
E algumas das imagens do encerramento, na entrega dos certificados aos alunos, antes da exibição do filme final.
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(fotos da produção da Mostra) |
Fortim e Pontal de Maceió
A visão acima era a que tínhamos do lugar de onde almoçavamos e jantávamos em Fortim. Uma cidade pequena e agradável, em volta do rio Jaguaribe. Abaixo, a visão do parapeito da nossa pousada.
E nossa oficina aconteceu no distrito de Pontal de Maceió, pela primeira vez na itinerância com toda a turma acima de 14 anos na oficina de animação. Mais uma vez usamos o mesmo esquema, animar com objetos que se encontram com você, e à tarde com obejtos que encontrássemos nos arredores.
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Explicando o funcionamento básico da truca (foto da produção da Mostra) |
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(Foto da produção da Mostra) |
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Aluno animando seu cordão. |
Desta vez decidimos dar um tema para os alunos trabalharem, além de lhes pedir para elaborarem suas ideias num pequeno roteiro (nada elaborado, só alguma ideias em sequência). O tema foi o lobisomem, pois já desde Aracati ouvíamos as histórias do lobisomem, e soubemos que em Fortim a lenda é ainda mais forte, então, por que não? Foi bastante divertido trabalhar desta forma, as coisas fluiram de forma muito interessante e tivemos ótimas cenas realizadas.
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Personagem - composto de pedaços de metal, pregos e parafusos - está na floresta, quando o lobisomem aparece. |
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Como em Aracati, animamos apenas com a luz oriunda de baixo, na mesa de luz, deixando os obejtos em silhueta ou transparência, valorizando a forma e a estilização dos elementos. |
E um complemento bacana desta oficina foi uma aula de edição que tivemos com o nosso editor - que também era um dos diretores da Mostra -, Helton Vilar, que mostrou cuidadosamente todos os processos que fizemos com as imagens captadas - dos ajustes gerais e tratamento de cor até a edição do material inteiro.
E no encerramento, apresentamos a sessão, os alunos receberam seus certificados, falaram um pouco da experiência e tivemos a segunda parte da sessão de filmes.
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Eu falando da experiência da oficina em Fortim (foto da produção da Mostra) |
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Djaci José, nosso produtor, abrindo a nossa apresentação (foto da produção da Mostra) |
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Aryane, uma das nossas alunas mais dedicadas, falando da sua experiência na oficina (foto da produção da Mostra) |
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Alunos da oficina de animação com seus certificados (foto da produção da Mostra) |
E abaixo, o filme de animação da oficina e o Cine Jornal de Fortim. Desta vez montei uma música para o filme dos alunos :)
Meus agradecimentos ao prof.: Fernando, exemplo de dedicação à comunidade e ao crescimento cultural dos alunos, jovens e adolescentes da região, e às professoras Neurinha e Vânia, pelo apoio durante a oficina.
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Filme da oficina em exibição (foto da produção da Mostra) |
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Linhas e Espirais sendo exibido em Fortim (foto da produção da Mostra) |
E cedinho do outro dia já estávamos de malas prontas para partir para Jaguaruana. Ao longe, junto ao sol começando a subir, apenas as estações de energia eólica.
Jaguaruana
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Público compareceu em peso às exibições. (foto da produção da Mostra) |
Jaguaruana, a terra das redes de dormir, é uma cidade super agradável. Na então última cidade da nossa itinerância, nos sentimos todos muito à vontade e mais uma vez pudemos aproveitar bem os dias lá passados. A oficina foi realizada na Secretaria de Cultura do município, e quanto lá chegamos comecei a pensar em fazer algo diferente das cidades anteriores.
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Mostrando um pouco de referências de rotoscopia - no caso, uma vinheta do mestre italiano Gianluigi Toccafondo. (fotos da produção da Mostra) |
Dado o perfil dos alunos (de 16 anos para mais), e o fato de que, embora tenha havido muitas inscrições, apenas 5 compareceram, decidi trabalharmos com a rotoscopia. Aproveitando o pensar das oficinas de documentário ministradas pela Sabina (em que os alunos faziam um mapa de coisas interessantes da cidade a se documentar), pensei em fazermos algo como um 'documentário animado', mostrando um pouco das memórias dos alunos, que com a rotoscopia, teríamos o real + animação juntos num trabalho que ficaria bem interessante. Compartilhei esta ideia com os alunos, os quais vi seus olhos brilharem, e isso foi mais do que a certeza de que seria o caminho a seguir, e lá fomos nós. O Cine Jornal desta edição mostra bem detalhadamente como pensamos a oficina, que foi da seguinte forma; após escolher estes locais da cidade que trouxessem lembranças da vida dos alunos, fomos todos em cada lugar e registramos pequenas ceninhas, de alguns segundos cada, que logo depois foram transformadas em sequências de imagens (cada segundo transformado em uma sequência de doze fotografias separadas), e estas impressas e trabalhadas, animando com pintura e desenho sobre cada uma. Em seguida este material foi fotografado quadro a quadro e recomposto na forma das cenas reais, mas com a interferência da animação adicionada. Também trabalhamos com a variante da pintura-no-tempo sobre fotografias, onde uma mesma imagem recebia a interferência de animação, atra'ves de mudanças sucessivas fotografadas quadro a quadro, como aliás podemos ver abaixo, na aluna Luana trabalhando.
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Nossa truca contou com uma luz adaptada à sapata da câmera, o que foi uma mão na roda, e já penso nesse esquema para fazermos futuramente na nossa truquinha itinerante. |
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Josimário prestando assistência à aluna, fotografando conforme ela modificava o frame anterior adicionando elementos. |
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Nosso esquema era esse: enquanto um aluno animava sobre uma mesma fotografia, os demais iam animando na rotoscopia propriamente dita, trabalhando quadro a quadro criando animações sobre as cenas reais impressas. |
As sessões da noite foram feitas numa agradável praça, que contaram com um grande público e bem diverso. Uma das melhores exibições que tivemos na itinerância, foi muito agradável. Tivemos a entrega de certificados e encerramos com a segunda parte dos filmes da mostra.
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Parte da equipe, secretário de cultura e alunos na entrega dos certificados. |
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(fotos da produção da Mostra) |
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(foto da produção da Mostra) |
E segue o filme final realizado com os alunos, e o Cine Jornal. Ah sim, a música do filme de animação é de um músico local, Marcelo Lima, parceiro de Dodó Figueirêdo, cordelista e que também foi aluno da oficina.
Voltamos nesta mesmo noite, após a exibição, e no fim da noite do domingo já estávamos de volta em Fortaleza. E assim foi a nossa itinerância. Oito dias ao total, mas que pareceu um mês tamanha foi a profusão de coisas tão bacanas que surgiram e que fizeram parte de nós na nossa vivência. Belíssimas localidades, pessoas tão interessantes, momentos mágicos que fizeram tudo mais do que valer a pena. Isso é uma das coisas mais legais de se viajar, que é estar com o coração aberto a tudo o que chega e passa a fazer parte de nós, a integrar a nossa vida deste ponto em diante.
Agradeço a todos que cruzaram o nosso caminho e fizeram nossa viagem ser tão especial. Agradecimentos especiais a Telmo Carvalho e ao NUCA - Núcleo de Cinema de Animação da Casa Amarela Eusélio Oliveira / UFC, pelos equipamentos cedidos. E ainda, agradecimentos mais do que especiais a todos os colegas de equipe - Josimário, Helton, David, Sabina, Djaci, Grá, Adriano, Canindé, Janjão, Ricardo e Márcio, pelo apoio, amizade e convivência nessa semana incrível.
De volta ao estúdio, agora apenas a saudade e a vontade de partir para a estrada num projeto como este em breve. Aprendi demais nessa viagem, em muitos aspectos, e coisas como essas ficam pra sempre. E vamos em frente! :)
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